Uma Boa Relfexão


Os Bichos e os Homens

É mais que evidente que os bichos aprendem. Aprendem pelo instinto e, portanto, de dentro para fora, valendo dos recursos da modelagem de seus genes pela hereditariedade, mas os bichos também aprendem de fora para dentro, convivendo com os outros de sua espécie, observando e copiando conduta de iguais, experimentando e repetindo, ou ainda, deixando-se domesticar pelos homens e, descobrindo que quando agradam aos donos, podem destes receber alimento e afago.

Em parte a educação de seres humanos também é assim.

Toda criança traz na constelação de seus genes, uma série imensa de coisas que apreendem. Aprendem, por exemplo, a falar e por isso mesmo que se crescem em meio a macacos ou lobos adquirem sons de suas linguagens, diferentemente de hábitos do instinto, como por exemplo, mamar, que desenvolvem sugando o seio oferecido, seja este humano ou não. Nesse singelo exemplo percebe-se que tal como os bichos, os humanos trazem reações instintivas que não dependem da aprendizagem, mas trazem também potenciaisque se desenvolverão mais ou menos, desta ou daquela maneira, de acordo com a aprendizagem recebida.

Mas a educação dos seres humanos ainda que guardando semelhanças iniciais, caminha muito além da aprendizagem animal. Nossa educação não continua apenas o trabalho da vida, busca instalar domínios de trocas e ensina a compreender e cambiar símbolos, intenções, valores, padrões de cultura, relações de poder. Para a aprendizagem animal basta ser um membro integrado a sua espécie, para a aprendizagem humana a igualdade ao predecessor é pouco e não há mãe ou pai, mestre ou professor que não sonhe seres melhores, humanidade mais justa, que não empregue esforço consciente da vontade e do conhecimento, para a consecução de um fim sempre acima do estágio conquistado no momento.

Considerando que existe uma certa unanimidade na busca destes fins, é extremamente discutível ponderar-se que a educação resulta em imenso fracasso.

Se assim não fosse deveríamos esperar que hoje fosse bem melhor que ontem e que, naturalmente, o amanhã seria ainda superior. É isso que ocorre? Não vivemos, por exemplo, lamentando a juventude de agora? A perda da paz e da serenidade das comunidades solidárias de ontem? Não existe em todos os povos uma certa nostalgia por um ontem de valores que depressa se perdeu? Serão esses lamentos injustificáveis? Deveremos acreditar ou não que a educação tem cumprido seu papel de melhorar o homem e que resmungos sobre um passado melhor constitui apenas saudosismo inútil, sentimento de saudade por tempos em que se foi mais jovem?

Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Que os tempos de agora tem coisas melhores que os de ontem é fato incontestável. Além dosavanços da tecnologia que nos garante conforto maior e sonhos mais ousados, existe um progresso médico que se não nos libertou de incômodos passados, reduzi-os drasticamente. Além disso, salvo exceções, conseguimos exorcizar a escravidão e ainda que não encontrando a paz sonhada, abominar a guerra e repudiar a violência. Não parece ser exercício difícil perceber que a educação trouxe algum progresso, mas que em sua esteira implantou algumas doenças. Serão essas doenças extirpáveis? Não existirá possibilidade de “atirarmos fora a água do banho sem jogar junto a criança que se banhou?” Será enfim, possível, pensar que a educação pode, ao mesmo tempo, preservar os avanços sem se contaminar por suas conseqüências? Se essa perspectiva é possível, como fazê-la? Será que essa resposta não pode estar em nossa escola, neste ano letivo que planejamos?

Façamos uma experiência. Reunamos os professores de uma escola para discutir esses temas e, sem rótulos que diferenciem o mais velho do mais novo, o “titular” do “suplente”, o “professor de disciplinas importantes” e os outros, busquemos alternativas, apresentemos propostas.

Será que a reunião terminará como começou? Será que não daremos um passo à frente?

Acredito sinceramente na Segunda alternativa. Não creio em “receitas admiráveis” que, importadas de outros espaços ajustem-se aos nossos. Creio com firmeza e plena convicção que cabeças unidas refletindo problemas e sugerindo buscas possam caminhar à frente e se não chegarem ao ideal, por certo estarão muito além dos que jamais pensaram, dos que abominam a troca de idéias e a certeza de que se acreditarmos que somos capazes, efetivamente seremos. Há muitos anos Henry Ford já anunciava: se vocês acham que podem ou que não podem, parabéns. De qualquer forma estão certos.

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Aprendizagem

Dislexia, Disgrafia e Disortografia, a dificuldade em leitura/escrita
Por Résia de Morais
por Résia de Morais

As dificuldades de aprendizagem estão fortemente relacionadas ao atraso na aquisição da linguagem. Essas dificuldades referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita. Alguns dos principais problemas de leitura e escrita são a Dislexia, a Disgrafia e a Disortografia.

Dislexia é uma dificuldade de aprendizado da Linguagem em Leitura, Soletração e Escrita. É uma dificuldade de causa genética e neurológica que compromete principalmente o desenvolvimento da leitura, dificultando o exercício da escrita. Não tem como causa falta de interesse, de motivação, de esforço ou de vontade, como nada tem a ver com acuidade visual ou auditiva. No entanto, fatores externos (ambientais) não podem ser separados de problemas neurológicos, visto que aspectos, como instrução inadequada, pobreza de estímulos na infância e distúrbios emocionais, podem causar diferenças no desenvolvimento neurológico e cognitivo de cada indivíduo e podem preceder em dificuldades severas na capacidade de leitura. Dislexia, antes de qualquer definição, é uma capacidade particular de ser e de aprender; reflete na expressão individual de cada mente, muitas vezes sutil ou até genial, é, na verdade, um modo de aprender diferente.

A Disgrafia é a dificuldade em descrever o que se visualiza em uma palavra impressa. Diferencia-se pelo lento traçado das letras, normalmente ilegíveis. A criança disgráfica não possui deficiência visual ou motora, e nem comprometimento neurológico ou intelectual, entretanto, não consegue idealizar no plano motor o que captou no plano visual. Exemplos: apresentação desordenada do texto, espaço irregular entre as palavras e linhas, traçado de má qualidade, separações inadequadas de letras, direção da escrita oscilando para cima ou para baixo, por fim uma má apresentação do texto escrito conhecido pelos pais e professores como o famoso "garrancho".

Já a Disortografia é apresentada quando a criança faz trocas ortográficas e confusão de letras, sílabas, palavras ou som (Exemplos: f/v, p/b, ch/j, b/d, p/q, an/a, en/e, in/i, cantarão/cantaram, e casa/caza), porém, não implica a diminuição da qualidade do traçado das letras. Essas trocas ortográficas são normais nas primeiras séries iniciais, porque a relação entre a palavra impressa e os sons ainda não está totalmente dominada. Quem se lembra daqueles ditados que as "tias" realizavam para avaliar a nossa escrita? Na verdade, a professora estava avaliando a capacidade de transcrever a linguagem oral, uma forma de diagnosticar se a criança tem disortografia ou não.

É importante desmistificar os motivos da dificuldade de aprendizado, pois estas crianças, na maioria das vezes, sofrem um processo de ridicularização e são facilmente rotuladas como preguiçosas e burras, e isto vindo tanto dos seus pais, família e escola, leva na maioria das vezes a uma perda de auto-estima, depressões e a comportamentos defensivos difíceis de correção posterior. É fundamental que o diagnóstico seja o mais objetivo e direcionado possível, acompanhado pelas imprescindíveis estratégias de ação. É necessário que um grupo de profissionais proceda à investigação e à análise dos déficits funcionais, trace o perfil de desempenho da criança, formule hipóteses explicativas e especifique os objetivos do tratamento terapêutico.

O psicólogo conduzirá a avaliação emocional, perceptual e intelectual. O pedagogo fará a avaliação acadêmica. A fonoaudióloga poderá conduzir a avaliação audiométrica, cujo objetivo é descartar possível déficit auditivo ou um possível problema na fala. O dentista verificará o posicionamento dos dentes que ocasionam um possível problema na pronúncia das palavras. O médico oftalmologista realizará o exame de acuidade visual, cujo objetivo é excluir déficit visual. O médico neurologista irá realizar o exame neurológico tradicional e o evolutivo, afastando o comprometimento neurológico. Os dados fornecidos por estes profissionais poderão contribuir com novas informações ou descartar possíveis lesões. Os resultados da avaliação de cada profissional deverão ser analisados e discutidos por todos e deverá ser proposto um diagnóstico diferenciado, especificando as integridades e dificuldades observadas na criança.

Caso sua criança apresente uma dessas dificuldades de aprendizagem, você pode:
•Estimular a criança a elaborar os seus próprios postais e convites, a escrever o seu diário no final do dia como rotina.
•Incitar a criança a ajudá-la na elaboração de uma carta.
•Encorajar as tentativas de escrita da criança, demonstre interesse pelos trabalhos escritos.
•Não corrija simplesmente os seus erros, mas tente antes procurar a solução com a criança (ex: "qual a outra letra que podemos usar para fazer esse som?") e a mesma faz a correção.
•Recorra a livros de atividades que existem no mercado e que permitem à criança trabalhar os vários casos de ortografia.
•Não sobrecarregue a criança com trabalhos que a levem a ver as atividades acadêmicas como desagradáveis.
•Brincar, pois é também aprender.

Crédito
Résia Silva de Morais é psicóloga. CRP-MG 04/31203.
resiamorais@gmail.com

quinta-feira, 31 de março de 2011

http://www.revistaautismo.com.br/diamundial2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Palmada na lei


Ao propor a proibição da palmada, o Estado infantiliza os pais
ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
Jornalista, escritora e documentarista. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. É autora de Coluna Prestes – O Avesso da Lenda (Artes e Ofícios), A Vida Que Ninguém Vê(Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua(Globo).

Tento me mover pela vida a partir das dúvidas. Mesmo quando acho que tenho uma razoável certeza sobre algum tema, me pergunto várias vezes: “será?”. E guardo uma parte de mim sempre aberta para mudar de ideia diante de algum fato novo ou argumento bem fundamentado. É o caso da lei da palmada, que me parece desde sempre um total disparate. Ao constatar que o projeto de lei enviado pelo presidente Lula ao Congresso em 14 de julho é apoiado e defendido em entrevistas e artigos por pessoas cuja inteligência e atuação pública tenho grande respeito, me forcei a um questionamento ainda maior. Será que palmada é crime e eu não estou percebendo algo importante?

O projeto, que ficou conhecido como “lei da palmada”, se propõe a alterar o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Nele, fica proibido o uso de castigos corporais de qualquer tipo na educação dos filhos. O castigo corporal é definido como “ação de natureza disciplinar ou punitiva com o uso de força física que resulte em dor ou lesão à criança ou adolescente”. Li, pesquisei, estudei e continuo achando um total disparate. Não encontro um único argumento que me convença de uma lei proibindo palmadas.

Antes de seguir, quero deixar muito claro que, obviamente, espancamento é crime. Seja dos pais ou de quem for. Palmada não. E nada me convence de que precisamos de mais uma lei, já que a legislação existente pune o espancamento e demais agressões físicas. Nada tampouco me convence de que o Estado deve interferir neste nível na vida privada, na maneira como cada um educa seus filhos. Não por uma postura liberal, mas por algo bem mais sério que vou abordar mais adiante.

Um dos argumentos em defesa da nova lei é de que as pessoas não saberiam a diferença entre uma palmada e um espancamento. Acredito que a maioria das pessoas sabe muito bem a diferença entre dar um tapa na bunda de uma criança e espancar uma criança. Não vale como estatística, mas nunca conheci ninguém que não soubesse, exceto pessoas com distúrbios muito graves, que também não sabiam a diferença entre quase tudo. Quem espanca não acha que está dando uma palmada. Tem certeza de que espanca e quer espancar.

Outro argumento é de que a suposta violência começaria com uma palmada e evoluiria para um espancamento. Não me parece que temos provas de que isso seja um fato verídico. É verdade que temos, infelizmente, um número elevado de crianças espancadas no país – no caso de crianças espancadas, queimadas e agredidas de todas as formas qualquer número acima de zero é elevado e vergonhoso e seus autores devem ser punidos com as penas previstas nas leis que já existem. Mas não é a maioria nem é uma regra evolutiva. Não vejo pais dando palmadas nos primeiros dois anos de vida e no terceiro e no quarto espancando. E no quinto e sexto matando? O espancamento de uma criança quebra tanto o consenso social que provoca horror e espanto.

Me parece muito perigoso tachar de criminosos pais que dão palmadas. Por vários motivos. O primeiro deles é a injustiça da afirmação. Crime é algo muito sério e algo com que o Estado e todos nós precisamos nos preocupar porque rompe e ameaça o tecido social, portanto a sobrevivência de todos. Não pode e não deve ser banalizado. Chamar de criminoso um pai ou uma mãe que dá uma palmada na criança na tentativa de educar é, além de um equívoco, um flagrante abuso.

Me preocupa muito, por exemplo, o fato de demorarmos a agir no caso das denúncias de espancamentos e de agressão sexual. Assim como me preocupa a falta de instrumentos de proteção efetivos para amparar as crianças violadas de todas as formas. Quem trabalha com a prevenção da violência contra crianças sabe que há escassez de assistência. Isso resulta em traumas físicos e psicológicos para as vítimas e impunidade para os agressores. Quando o Estado coloca a palmada e o espancamento no mesmo nível, como se fosse a mesma coisa, todas as lacunas de prevenção, assistência e repressão podem se tornar ainda mais largas.

Se o Estado se propõe a entrar na casa das pessoas e fiscalizar se todos os pais do Brasil estão dando ou não palmadas em seus filhos, em vez de concentrar seus recursos e esforços naquilo que é importante – a prevenção do espancamento e a punição dos espancadores, assim como dos abusadores de todo tipo – temo que o tiro possa sair pela culatra, com o perdão do clichê. Acho que na vida, seja para um governante, um legislador ou um cidadão comum, é importante ter foco.

Este tipo de debate é rico porque todos têm suas próprias experiências. E eu acredito muito na experiência. Vivemos numa época em que a tradição foi desmoralizada e a maioria corre para especialistas de todo o tipo para saber como deve agir ou pensar. Não confia nem na soma de experiências próprias e dos que acertaram e erraram antes – nem em seus próprios instintos. Uma pena, porque perdemos muito. Todos nós perdemos muito. E, talvez, mais que todos, nossas crianças.

Espancamento, ouso dizer que a maioria de nós não experimentou. Mas palmadas quase todos conhecem na pele. Eu nunca fui espancada pelos meus pais, mas recebi várias palmadas. E todas elas, na minha percepção, foram atos de amor e de educação. Eu nunca espanquei minha filha, mas dei várias palmadas nela. E também foram atos de amor e de educação.

Quando eu era criança, só conheci um colega que era espancado pela mãe. Numa ocasião, esta mulher entrou na escola onde estudávamos com um pedaço de pau e deu uma surra pública no meu amigo. Para nós aquilo foi algo totalmente apavorante. Tínhamos oito anos e não sabíamos que os pais eram capazes de tal violência. Sabíamos perfeitamente a diferença entre aquela surra sangrenta que testemunhamos e o que acontecia dentro da nossa casa quando aprontávamos alguma arte. Lembro que nos reunimos para conversar. Estávamos assustados e precisávamos explicitar e assegurar a diferença para termos certeza de que nossos pais nunca fariam algo assim. A forma que encontramos foi cada um contar como os pais procediam quando faziam algo errado. Rememorar os limites era a única maneira de nos tranquilizar diante daquela cena de horror.

O curioso é que, nervosos, cada um queria se exibir mais do que o outro. Minha mãe corre atrás de mim e me dá palmadas, a maioria dos meus colegas dizia, orgulhoso. Tinha um que se gabava de que o pai lhe dava umas cintadas na bunda. Me senti um pouco inferiorizada porque apanhava pouco. Então exagerei dizendo: “Minha mãe me dá muitas chineladas e dói bastante”. Pronto. Todos nós reafirmamos que éramos amados. Não éramos e não seríamos espancados, mas éramos amados o suficiente para que nossos pais se preocupassem de nos punir por coisas erradas que fazíamos. Confiávamos que nossos pais nunca superariam este limite. E, depois desta sessão espontânea de terapia coletiva, fomos convidar nosso machucado

>SAIBA MAIS

Passei a infância com uma inveja manifesta dos meus irmãos que um dia apanharam de cinta do meu pai. Meu pai explicou calmamente porque eles apanhariam, perguntou se tinham entendido bem as razões e as circunstâncias e começou a bater pelo meu irmão mais velho, por causa de outra regra muito clara: como ele era o mais velho, deveria dar exemplo aos mais novos. Como eu nasci muitos anos mais tarde, meu pai já tinha delegado esta tarefa à minha mãe e perdi esta parte. Seguiu mantendo uma autoridade que nos impunha tal respeito que bastava cravar em nós “aquele olhar” para pararmos a traquinagem no meio do movimento. Mas eu me sentia roubada – e desconfiava secretamente que meu pai me amava menos. Meus irmãos até hoje rolam de rir desta surra ritual de cinta nos encontros familiares – e eu não tenho nada para contar. Lembro de um dia ter me enchido de coragem e perguntado ao meu pai: “Por que eu nunca apanhei de cinta?”. Não lembro a resposta.

Quando chegou a minha vez de ser mãe, busquei as referências na minha própria educação. Minha opinião era a de que eu tinha apanhado pouco e deveria ter sido mais reprimida sob certos aspectos. Não havia a menor chance de que eu, como mãe, fosse permitir algumas petulâncias que meus pais engoliram de mim como filha. Fui uma mãe bem mais dura do que meus pais foram comigo, o que implicou em um número maior de palmadas e de regras. E, claro, me esforcei para desenvolver aquele olhar que emana da autoridade – e não do autoritarismo – no qual meu pai era mestre. Não fiquei traumatizada pelas palmadas que recebi dos meus pais – nem minha filha ficou traumatizada com as dadas por mim. Ainda ontem telefonei para ela, hoje com 28 anos, para me certificar. Não, ela definitivamente não ficou traumatizada.

Li num artigo de jornal a seguinte afirmação de uma psiquiatra: “Crianças que sofrem palmadas são induzidas a pensar que podem dar palmadas nos outros, que a violência é a maneira de resolver as coisas, e se tornam agressivas na escola”. Me parece um pensamento bastante inconsistente. Nunca achei que pudesse dar palmadas em ninguém nem permiti que outros que não fossem meus pais me dessem palmadas. Era muito claro que esta prerrogativa, a de me dar palmadas para me educar, era só dos meus pais. E que eu só as teria quando fosse mãe. Assim como era muito claro para mim e para meus irmãos que a violência não era a forma de solucionar conflitos. Possivelmente porque nós – e a maioria das crianças ao nosso redor – não decodificavam a palmada como violência. Nunca conheci nenhuma criança que saísse dando tapas nos outros porque recebia palmadas em casa. Vi, sim, especialmente em trabalhos de reportagem, crianças espancadas que se tornaram muito agressivas ou totalmente alheias. Garanto: é de outra ordem.

Outro argumento que aparece neste debate é o da desproporção. Não há comparação entre a força de um adulto e a capacidade de se defender de uma criança, entre o tamanho da mão que aplica a palmada e a mão de quem a recebe. É verdade. E não vejo como poderia ser diferente. Não compreendo como poderia existir um processo educativo que não parta de uma desproporção. Se eu tenho condições de ser mãe é justamente porque assumo a desproporção. Para me tornar mãe ou pai, eu preciso antes acreditar que tenho o que transmitir ao meu filho e tenho meios para educar. É minha esta responsabilidade. E dá um trabalho enorme – muito maior do que deixar para lá e não colocar limites, como se vê cada vez mais por aí.

É a consciência da desproporção que faz com que eu controle minha força se for dar uma palmada. E controle minha “força” também para não impor as minhas respostas e, assim, impedir meu filho de fazer sua própria busca pelo conhecimento. Com a minha orientação, sim, mas não com os meus dogmas. Ser pai ou mãe é se responsabilizar pelo seu poder, em todos os sentidos. Quando a gente se responsabiliza fica muito mais difícil se exceder em qualquer aspecto – seja físico ou psicológico.

Mas o aspecto que mais me preocupa se este projeto de lei for aprovado é o de reforçar aquele que me parece ser – este sim – um dos grandes problemas atuais: a dificuldade dos pais de educar seus filhos. Não me parece que o problema da maioria das crianças hoje seja a palmada que eventualmente recebe dos pais. Mas o fato de não receber limites de seus pais, de não ser efetivamente educada.

Boa parte dos pais me parece completamente perdida. As crianças gritam, as crianças querem porque querem, as crianças interrompem às vezes aos berros quando o pai conversa com outra pessoa, as crianças não cumprimentam ninguém nem na chegada nem na saída, fazem exigências como se o mundo e todos os adultos dentro dele existissem para servi-las, testam e testam para ver se alguém vai fazê-las parar, botar algum limite, e nada. Basta sair na rua para testemunhar cenas lamentáveis em restaurantes, shoppings, cinemas e lugares públicos protagonizadas por pequenos déspotas diante de pais infantilizados. Pais esvaziados, inseguros sobre sua capacidade de educar o filho que botaram no mundo e que parecem duvidar que têm algo a ensinar àquelas crianças. Pais sem nenhuma autoridade.

O que uma parte destes pais faz quando se torna insuportável viver com estes filhos? Leva para um especialista que diagnostica a criança como a mais nova portadora da epidemia da moda: a tal da TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. E dá-lhe medicamento cada vez mais cedo. Como boa parte das crianças ao redor já foi diagnosticada com a “doença” esta, ninguém acha suspeito. Imagino que, quando parte desta geração crescer, o rito de passagem vai ser apenas mudar o medicamento: aos 18 anos ganha um carro e sua primeira caixa de antidepressivos.

Pobres pais? Não! Pobres crianças que visivelmente estão cada vez mais infelizes porque ninguém nasce sabendo sobre seus limites e todo o resto. Um filho precisa que os pais sejam pais. Diante deste quadro, o que o Estado faz? Infantiliza e esvazia de autoridade ainda mais estes pais ao se meter na vida privada e dizer como eles devem educar. Ou que eles não podem tocar nos seus filhos para educar sob pena de serem tratados como criminosos ou párias. Ou, talvez o pior: tratados como maus pais.

Na escola, os professores já choram diante de crianças e adolescentes que desafiam sua combalida autoridade dizendo: “Você não pode me mandar fazer nada porque quem paga o seu salário é o meu pai”. A tradução é: portanto, eu mando em você e, portanto, não há educação possível a partir desta premissa. Se a lei da palmada for aprovada, é possível imaginar as variações dentro de casa: “Se me bater eu te denuncio para o conselho tutelar”.

Não estou fazendo aqui nesta coluna uma apologia da palmada. Há pais que educam sem bater – e conheço alguns. Há outros que educam dando palmadas quando outras tentativas se esgotam. Os que não batem não são melhores pais porque não batem – e vice-versa. Cada relação é uma relação. Cada filho é diferente do outro. E com cada filho seremos pais diferentes, porque cada um deles nos trará demandas diferentes. Quem tem mais de um filho sabe bem disso.

Não tenho dúvida de que os autores e apoiadores da lei são bem intencionados. Mas acho que se equivocaram e erraram o alvo. Uma lei como esta desautoriza os pais – e o faz numa época em que eles mesmos, por diversas razões, já desautorizam a si mesmos. Ao exercer sua autoridade de forma abusiva, o Estado esvazia de autoridade e infantiliza seus cidadãos. Isto é grave. Embora eu tenha poucos motivos para confiar neste Congresso que aí está, espero que vozes com bom senso se ergam para impedir este projeto de virar lei. Se virar, como todas as leis sem lastro na realidade, não será cumprida. E isto desmoraliza a democracia.

(Eliane Brum escreve às segundas-feiras)


CARTILHA SOBRE BULLING

Entre e baixe o material é formidável.
http://www.observatoriodainfancia.com.br/IMG/pdf/doc-197.pdf

Confira as dez principais descobertas dos especialistas sobre quando e como os pais podem ajudar a despertar nos filhos a curiosidade intelectual

Leia abaixo:

Ter livros em casa

E, no caso de filhos pequenos, ler para eles. O hábito, cultivado desde cedo, faz aumentar o vocabulário de forma espantosa. Segundo estudo do americano James Heckman, prêmio Nobel de economia, uma criança de 8 anos que recebeu esse tipo de estímulo a partir dos 3 domina cerca de 12 000 palavras - o triplo de um aluno sem o mesmo empurrão. A diferença se faz sentir na assimilação de conhecimento em todas as áreas. Ao analisar o fato de a Finlândia aparecer sempre na primeira posição nos rankings de educação, um estudo da OCDE confirma: o incentivo precoce à leitura em casa tem um papel decisivo.

Reservar um lugar tranquilo para os estudos

A ideia é cuidar para que o ambiente ofereça o mínimo necessário: mesa, cadeira, boa iluminação e distância da televisão. Já na pré-escola, os pais podem definir o local e incentivar seu uso diário. Os benefícios, já quantificados, são os esperados: concentrado, o aluno aprende mais e erra menos.

Zelar pelo cumprimento da lição

Ainda que a criança seja pequena e a tarefa, bem fácil, é importante mostrar a relevância dela com gestos simples, como pedir para olhar o dever pronto ao chegar em casa. Até cerca de 10 anos, monitorar diariamente a execução da lição não é excessivo. Ao contrário. Esse é o momento de começar a sedimentar uma rotina de estudos, com horário e local, mesmo que seja mais uma brincadeira. Um relatório da OCDE não deixa dúvidas quanto às vantagens. Os melhores alunos no mundo todo levam a sério o dever de casa.

Orientar, mas jamais dar a resposta certa

Solucionar o problema é uma tentação frequente dos pais quando são acionados a ajudar na tarefa de casa. Não funciona. O que dá certo, isso sim, é recomendar uma leitura mais atenta do enunciado, tentar provocar uma nova reflexão sobre o assunto e, no caso de filhos mais velhos, sugerir uma boa fonte de pesquisas. Se o erro persistir, deixe-o lá. Já se sabe que a correção do professor é decisiva para a fixação da resposta certa.

Preservar o tempo livre

Muitos pais, ávidos por proporcionar o maior número de oportunidades aos filhos, lotam sua agenda de atividades fora da escola. O resultado é que sobra pouco tempo para brincar, esse também um momento sabidamente precioso para o aprendizado. Na escola, por sua vez, crianças com rotinas atribuladas demais costumam demonstrar cansaço, o que frequentemente compromete o próprio rendimento.

Comparecer à reunião de pais

Mesmo que seja muitas vezes enfadonha, ela proporciona no mínimo uma chance de sentir o ambiente na escola, saber da experiência dos demais alunos e tomar contato com a visão de outros pais. A ida a esses encontros tem ainda um efeito colateral menos visível, mas já bastante estudado: a presença dos pais é uma demonstração de interesse que contribui para o envolvimento dos filhos com a escola.

Conversar sobre a escola

A manifestação de interesse, por si só, é um indicativo do valor dado à educação pela família. Os efeitos são ainda maiores quando o estudo é tratado como algo agradável e aplicável à vida prática, e não um fardo. Uma recente compilação de estudos, consolidada por um centro de pesquisas do governo americano, mostra que um pai que consegue produzir esse tipo de ambiente em casa aumenta em até 40% as chances de o filho se tornar um bom aluno.

Monitorar o boletim

No caso de um resultado ruim, o melhor a fazer é definir um plano para melhorar o desempenho - mas não sem antes consultar a escola e avisar o filho de que está fazendo isso. O objetivo aí é estabelecer, junto com o colégio, uma estratégia para reverter a situação e saber qual será, exatamente, sua participação. Está mais do que provado que castigo, nesse caso, não funciona. Só diminui o grau de autoconfiança, já baixa, e agrava o desinteresse pelos estudos.

Procurar o colégio no começo do ano

É a ocasião em que cabe perguntar, pelo menos em linhas gerais, o que a escola pretende ensinar em cada matéria. Trata-se do mínimo para poder acompanhar tais metas e, se preciso, cobrar sua execução.

Não fazer pressão na hora do vestibular

O excesso de pressão por parte da família só atrapalha no momento mais tenso na vida de um estudante. À mesa do jantar, os pais darão uma boa contribuição ao evitar falar apenas disso. Mas podem ajudar mais, principalmente zelando para que o ambiente de casa na hora do estudo não fique barulhento demais e para que o filho não se comprometa com muitas atividades. O lazer, no entanto, não deve ser suprimido. É o que dizem os especialistas e os próprios campeões no vestibular: em 2008, os mais bem colocados em dez áreas mantiveram uma pesada rotina de estudos, mas, pelo menos no fim de semana, preservaram algum tempo livre.

domingo, 27 de março de 2011

Fases das professoras...



Recém formada...


Pegou 20 aulas e está louca para ampliar sua carga. É uma gatinha cheia de sonhos e toda feliz!
Fala muito, está sempre contando as novidades.
Nos primeiros dias de trabalho, tudo é divino, tudo é maravilhoso!

Depois de 3 anos...


Está trabalhando em jornada ampliada. Já acompanha os movimentos do dia a dia, cheia de novas ideias; tem planos para seu trabalho, anda um pouco agitada com tanta expectativa!

Depois de 6 anos...
Sua agitação aumentou um pouco, suas amigas e a direção estão percebendo. Já vira noite e dia, tentando se encaixar na profissão... Não sabe o que fazer com a turma de 'aceleração' e só falta plantar bananeira, pra aumentar a nota do IDEB.
Depois de 10 anos...


Engordou um pouco: culpa dos antidepressivos... Motivo: estresse causado por excesso de alunos e, muitos, mal educados, pais de alunos também, direção, coordenação, supervisão, S.R.E, quantidade de trabalhos extraclasse, filhos, marido ganhando pouco, trabalho longe de casa , ufa!!!
Depois de 15 anos...

Com muita sorte, já está trabalhando perto de casa. Mudou todo o guarda-roupa, para se adaptar à nova silhueta. Mas está feliz, come em casa e tem um caderno já pronto para o início do ano. É só segui-lo... Tem ainda uma dorzinha de cabeça, a garganta já era, esqueceu o significado de 'bom dia', sente-se como se tivesse acabado de cair da cama...
Depois de 20 anos ...

Tem depressão regularmente. Não reconhece a rua onde mora; a memória deu PT (perda total); enxerga pouco; escuta pouco; dorme pouco; fala pouco; sonha pouco; a única coisa que tem muito são dívidas...
Está ficando completamente transtornada!!!
E vê se pode ... Já quer se
Aposentar?!?!?!